— Então fala “Perdi minha namorada.”
O relógio marcava três horas da madrugada, mas a noite parecia ter se alongado por uma eternidade. Na penumbra do quarto, onde só a luz tímida do abajur ousava brilhar, o silêncio era espesso, quase sufocante. Naquela noite, o ar parecia mais pesado, como se o próprio universo estivesse me impondo o peso de uma ausência irreversível. E, entre todas as coisas que eu poderia perder, eu havia perdido a única que realmente importava: o amor de alguém.
Não houve briga épica nem palavras amargas que ecoassem como clichês de um romance trágico. Apenas o vazio que se instalou lentamente, como uma sombra que toma conta dos espaços aos poucos, até ocupar tudo. Lembro-me dela saindo pela porta, o rosto sereno, como se estivesse indo para um lugar onde eu não poderia segui-la. Um gesto simples, um adeus sussurrado, mas que soou em minha mente como o som de uma porta se fechando para sempre.
No fundo, talvez eu soubesse que aquilo viria. Há momentos que só compreendemos em retrospecto, quando as pistas deixadas ao longo do caminho se revelam óbvias. Pequenos gestos, olhares distraídos, sorrisos que já não brilhavam como antes… tudo parecia prenunciar o inevitável. Mas, como um personagem relutante em aceitar o rumo da história, preferi fingir que aquilo tudo era parte de uma fase, um capítulo breve e sem grande importância.
Agora, deitado no escuro, com os olhos fixos no teto e o coração pesando mais que o corpo, restavam apenas os pensamentos tortuosos e as palavras que nunca cheguei a dizer. Sinto a falta dela como se faltasse um pedaço de mim, uma parte que, por mais que eu tentasse, jamais poderia preencher com frases bem escritas ou com a poesia vazia dos solitários. Era ela quem dava sentido às histórias que eu contava, quem inspirava as entrelinhas que só ela sabia ler.
Se antes eu escrevia para encantar, agora escrevo para desabafar. Cada palavra que deposito no papel parece arrancar um pedaço da dor que teima em não me deixar. Busco nas frases, nas metáforas e nos parágrafos algum alívio, algum tipo de redenção que me faça crer que esta perda não foi em vão, que de alguma forma isso me tornará alguém mais profundo, mais consciente, ou ao menos mais compreensivo.
Mas talvez eu seja apenas mais um tolo, preso ao ciclo interminável das memórias, dos cheiros, das risadas, do jeito como ela ajeitava o cabelo. E a cada linha que escrevo, sinto-me mais distante dela, mais preso ao que já foi, ao que nunca mais será. Porque, no fim, talvez seja isso que chamam de amor verdadeiro: algo que, quando se perde, nunca se recupera de fato.
Então, é isso. Perdi minha namorada. E com ela, perdi um pedaço de mim, algo que jamais poderei substituir ou reviver. Fico com as palavras, é claro, e com elas tentarei reconstruir algum sentido, mesmo que amargo, mesmo que desesperadamente vazio. Porque ser escritor é, antes de tudo, aprender a conviver com aquilo que não pode ser dito, com aquilo que dói em silêncio, sem grandes gestos ou finais felizes.
Fecho o caderno, apago a luz, e em meio ao breu, aceito que esta é mais uma história que não terei forças para contar. Porque, de todas as histórias que vivi, esta é a única que realmente importa — e, paradoxalmente, a única que nunca encontrarei palavras suficientes para descrever.
Dalton é escritor, poeta, cronista, contista, jornalista do astral, médium, humorista incorrigível da consciência, que sente uma saudade incrível de seu planeta, e está ansioso para ser “puxado” pelo planeta Chupão. Alega: Não quero ficar com os “bons”. Autor de 41 obras independentes: 5 de informática e 36 de espiritualidade sem religião e consciência. Engenheiro Civil, pós-graduado em: Educação em Valores Humanos e também em Estudos da Consciência com ênfase em Parapsicologia. Autor da obra SEU LIVRO PUBLICADO. É a obra mais grossa, mais completa e mais detalhada do mercado, sem concorrentes a altura: 404 páginas, principalmente baseado nas plataformas: Amazon, UICLAP e Clube de Autores. Obra ilustrada, com links e QR Codes. Com 112 imagens, 78 QR Codes, 187 links, 4 tabelas, e detalhes minuciosos e macetes raros que ninguém nunca contou antes. Todas as obras aqui: clube.consciencial.org (copie e cole no navegador). Todos os ebooks aqui: ebooks.consciencial.org (copie e cole no navegador).