O ESCRITOR PERDEU O “BUSÃO” – COMO ELE ESCREVE?

— Você é escritor?
— Sou, sim.
— Então fala “Perdi o busão.”

Eram exatamente 7h03 de uma quinta-feira fria e nublada. O despertador havia tocado há mais de vinte minutos, mas minha mente ainda se perdia nas ideias desconexas da noite anterior. As palavras, os pensamentos, os insights que me surgiram enquanto o mundo lá fora mergulhava no silêncio noturno, agora pareciam ecoar como fantasmas.

Levanto-me devagar, sentindo o peso das horas mal dormidas e das perguntas que não tinham resposta. Arrasto-me até o banheiro, onde a água gelada me atinge como um choque de realidade, mas nem isso é suficiente para apagar a sensação de que o tempo escapa entre os dedos, como areia fina.

Enquanto me visto às pressas, vem o inevitável pensamento que um escritor nunca deixa escapar: “Estou atrasado… para o dia, para a vida, para a história que deixei sem final na noite passada.” Corro para a porta, mas quando vejo o ônibus se afastando ao longe, só me resta o consolo do clichê: *Perdi o busão*.

Dou um suspiro resignado e caminho pela calçada, em silêncio, quase satisfeito com essa desculpa poética. Afinal, todo escritor vive para as palavras e, naquele momento, a única coisa que eu realmente não perdi foi uma boa história para contar.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *